Diferença de necessidades


Um quer compromisso sério, para o outro amar já é sério o suficiente. Um quer filhos, o outro não muito. Um quer uma casinha no mato, o outro é curioso, precisa de informação, cinema, gente. Um valoriza a transa antes de tudo, o outro acha que carinho é importante também. Ao menos, os dois gostam de dançar.
Um quer se sentir o centro do universo, o outro quer inclui-lo no seu amplo universo. Um quer fugir da solidão, o outro aceita a solidão. Um não quer falar de suas dores, o outro pergunta demais. Um briga por amor, o outro silencia por amor. Os dois se amam, isso não se discute.
Um não precisa conhecer o mundo, o outro traz o mundo em sí. Um é romântico para disfarçar a brutalidade, o outro é doce para despistar a secura. Um quer muito de tudo, o outro se contenta com o mínimo essencial. Os dois não ligam pra dinheiro, mas batalham para realizar seus sonhos.
Um quer que lhe deem atenção por 24 horas, o outro precisa que lhe esqueçam por alguns instantes. Um quer aproveitar cada a réstia de sol, o outro gostaria de dormir um pouco mais. Um gostaria de saber o que não sabe, o outro queria desaprender metade do que a vida lhe ensinou. Um precisa berrar, o outro chora.
Um quer ir embora e, ao mesmo tempo não. O outro quer liberdade, mas a dois.
Então um se vai e deita em todas as camas, sofrendo.
E o outro mergulha sozinho na dor, sobrevivendo.
Diferença de idade não existe. A necessidade secreta de cada um é que destrói ilusões e contrói o que está por vir.

( 07/09/2009)

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Pra que serve uma relação?

( por Drauzio Varela)
Uma relação tem que servir pra você se sentir 100% a vontade com outra pessoa, a vontade pra concordar com ela ou discordar dela, pra ter sexo sem não-me-toques, ou cair no sono pregado após o jantar.
Uma relação tem que servir pra você ter com quem ir ao cinema de mãos dadas, pra ter alguém que instale um som novo enquanto você prepara um omelete, pra ter com quem viajar para um país distante, pra ter alguém com quem ficar em silêncio sem que nenhum dos dois se incomode com isso.
Uma relação tem que servir para, as vezes, estimular você a se produzir, e quase sempre, estimular você a ser quem você é, de cara lavada, bonita a seu modo.
Uma relação tem que servir para um e outro se sentirem amparados nas suas inquietações, para ensinar a confiar, a respeitar as diferenças que há entre as pessoas, e deve servir pra fazer os dois se divertirem demais, mesmo em casa, principalmente em casa.
Uma relação tem que servir pra cobrir as despesas um do outro num momento de aperto, e cobrir as dores um do outro num momento de melancolia, e cobrirem o corpo um do outro quando o cobertor cair.
Uma relação tem que servir para um acompanhar o outro no médico, para um perdoar as fraquezas do outro, para um abrir a garrafa de vinho e para o outro abrir o jogo, e para os dois abrirem-se para o mundo, cientes de que o mundo não se resume aos dois.

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Experimente me amar

Pode invadir ou chegar com delicadeza, mas não tão devagar que me faça dormir. Não grite comigo, tenho o péssimo hábito de revidar. Acordo de manhã com muita preguiça e as vezes de mau-humor. Toque muito em mim, principalmente nos cabelos. Tenho vida própria, me faça sentir saudades, conte algumas coisas que me façam rir e conte comigo sempre. Não seja preconceituoso. Viaje antes de me conhecer, sofra antes de mim pra reconhecer-me um porto, um albergue da juventude. Eu saio em conta, você não gastará muito comigo.
Acredite nas verdades que digo e também nas mentiras, elas serão raras e sempre por uma boa causa.
Respeite meu choro, me deixe sozinha, e só volte quando eu chamar. Não me obedeça sempre, eu gosto de ser contrariada. ( então fique comigo quando eu chorar, combinado?). Seja mais forte que eu e menos altruísta.
Não se vista tão bem... gosto de camisa pra fora da calça, braços e ombros. Reverenciarei a você tudo que estiver em meu gosto: boca, cabelos, cheiro. Leia, escolha seus próprios livros. Odeie a vida doméstica e os agitos noturnos. Seja um pouco caseiro e um pouco "vida louca". Não seja escravo da televisão. Nem meu escravo, nem filho meu, nem meu pai. Escolha pra você um papel que ainda não tenha sido preenchido.
Me enlouqueça uma vez por mês. Faça surpresas de vez em quando. Goste de música. Goste de um esporte não muito convencional. Não invente de querer ter muitos filhos, me carregar pra missa, me acordar muito cedo e me fazer colocar um vestido de noiva...isso a gente vê depois...se calhar.
Quero ver você nervoso, inquieto. Olhe para outras mulheres, tenha amigos e digam muitas besteiras juntos. Não me conte seus segredos. Faça massagens. Não fume. Beba, chore, eleja contravenções.
Me rapte!
Se nada disso funcionar... experimente me amar!

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Gastando a dor...


A dor existe pra gente gastá-la. Ela tem um ciclo a cumprir. A dor exige que se beba tudo até o fundo da xícara. O sabor azedo faz parte da cura. O gosto que ela deixa na boca é a lembrança da lição. Para beber a dor, é preciso pequenos goles de tolerância. A dor precisa ser consumida por todos os sentidos. Ela tem prazo e validade, que pode ser longo ou curto. Mas não é vc quem o define. Na verdade ninguém tem o poder de mudar seu tempo. Ela já vem com data de vencimento marcada.
Uma semana pra uma chance perdida.
Um ano pra um amor perdido.
Uma vida para um filho perdido.
Quando a gente gasta a dor, não guarda angústias em álbuns de fotos, não acumula suas torturas pra se machucar outra vez, não estoca sua loucura pra viver o passado, não coleciona sua culpa pra depois carregá-la nas costas. É fácil saber se a dor foi gasta até o final. Não é preciso mais se esforçar pra sorrir. A solidão já não parece ser a melhor compania. É hora de se despedir do luto, colocar a alegria pra pegar um sol. Limpar as vidraças dos sonhos, vestir esperanças recém lavadas e ter a certeza de que não sobrou uma só lágrima para derramar!

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O salto


A gente não tem como saber se vai dar certo.Talvez lá adiante, haja uma mesa num restaurante, onde vc mexerá o suco com o canudo, enquanto eu quebro uns palitos sobre o prato pequenas atividades as quais nos dedicaremos, adiando o momento de dizer o que deve ser dito. Talvez lá adiante: mas entre o silêncio que pode estar nos esperando então e o presente, eu acabei de sair da sua casa , seu perfume ainda está na minha roupa e meu cheiro no seu travesseiro. Quem sabe não seremos felizes?
Entre a concretude do beijo de dias atrás e a premonição do canudo girando no copo pode caber uma vida inteira. Ou duas.
Passos improvisados de dança na sala da sua casa, risadas e cumplicidade. Um churrasco cheio de amigos, celebrando alguma coisa que não sabemos direito o que foi, mas que devia ser celebrada. Abraços, móveis quebrados, a primeira visão de sua casa vazia( Meu Deus ele não tem nada!), respirações ofegantes, sushis e batidinhas de licor. Cafunés, você me agarrando nas horas mais inesperadas, banhos de mar, fotos coladas na minha parede de momentos que ficaram eternizados, mãos dadas no cinema, vinho branco, viagem de férias e trilhas desbravadas num dia que pareceria ser monótono.
Então, numa manhã, enquanto passo o café, te verei escovando os dentes e andando pela casa, dessa maneira aplicada e displicente que você tem de escovar os dentes e andar ao mesmo tempo e saberei, com a grandiosa certeza que surge das pequenas descobertas, que sou feliz.
Talvez céus nublados e pancadas esparsas nos esperem mais adiante. Silêncios onde deveria haver palavras, palavras onde poderia haver carinho, batidas de frente, gritos até. Depois faremos as pases. Ou não.
Tudo o que sabemos agora é que eu te quero e você me quer e, temos todo o tempo e espaço diante de nossos narizes para fazer disso o melhor que pudermos. Se tivermos cuidado e sorte( sobretudo sorte), quem sabe de certo? Não é fácil. Tampouco impossível. E se existe esta centelha quase palpável, essa esperança intensa que chamamos de amor, então não há nada mais sensato a fazer do que soltarmos as mãos do trapézio e nos enlaçarmos em pleno ar.
Talvez nos esborrachemos. Talvez saiamos voando. Não temos como saber se vai dar certo. O verdadeiro encontro só se dá ao tirarmos os pés do chão, mas a vida não tem sentido nenhum se não for pra dar o salto!

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Estranha no ninho...


Mais gente que espaço. Escuro, barulhento e quente. O cheiro de cerveja e a fumaça dos cigarros formam uma camada tão densa que quase dá pra bater a cabeça nela. As pessoas não param de falar mas, certamente não escutam umas as outras, toda comunicação é feita através de olhares que, não raro, vão em todas as direções, varrendo a vasta gama de possibilidades. Sentar, só se for no colo do moço do caixa. Pra mim aquilo é o purgatório. Para aqueles a minha volta uma simples noitada num bar qualquer.

Naquela noite me sentí totalmente fora de lugar, de hora, de época e de história. Fui invadida por uma sensação hororrosa de que aquilo alí nada tem a ver comigo. Meu estado de torpor ao revisitar o mundo dos solteiros foi tão grande que cheguei ao cúmulo de invejar a desenvoltura com que aqueles serem vagavam com seus copos na mão e sorriso( meio bocó, há de haver sinceridade) rasgando bochecha a bochecha. Uma inveja que durou cerca de 10 segundos, até a constatação de que não dá pra uma arara invejar um bando de urubus. Claro, eu sou a arara.

No instante que visitei o zoológico mental, minha agonia se foi. Eu realmente estava fora do lugar, mas não por não ser atraente o suficiente, desinteressante ou sebenda. Nada disso. Estava fora do lugar igual um arara quando cai num ninho de urubus. Eu estava indo contra a minha natureza. E pouca coisa pode ser pior que isso.

A noite foi uma eca, mas aprendí uma lição básica e bem apaziguadora: não dá pra achar um bom CD de rock na prateleira de forró. Não dá pra encontrar ou ser encontrada, por alguém que tenha a ver com você, se você mesma se desencontrar e se misturar a fumaça, aos bêbados e ao som ensurdecedor.
Uma arara só vai encontrar outra arara no seu habitat natural.
Resumindo, descobrí que pra ser encontrada por alguém interessante preciso antes estar no lugar certo. No lugar onde minhas penas e plumas coloridas sejam sedutoras o suficiente para encontrar minha arara macho, que em vão procurei no ninho de urubus.

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Estamos voltando...

Voltar não significa retroceder, não necessariamente. Pode significar rever conceitos, avançar, evoluir. Significa acreditar em alguém, ou na capacidade de alguma coisa.
Passamos um bom tempo na geladeira, desacreditados.
Disseram que era nosso fim e acreditamos!
Porém sempre existe alguém que não desiste e luta até o fim, e uma ligação, apenas uma, chegou trazendo a notícia: " estamos voltando".
E numa fração de segundos, os dias passaram a ter cor novamente. O brilho nos olhos a muito tempo perdido, reacendeu. E essa coisa de brilho nos olhos, só existe uma pessoa que pode me compreender, só uma.
Enfim..."yesssssss estamos voltandoooooooo!"

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Afinidade


" Não importa o tempo, a ausência, os adiamentos, as distâncias, as impossibilidades. Quando há afinidade qualquer reencontro retoma a relação, o diálogo, o afeto, no exato ponto em que foi interrompido.

Ter afinidade é raro.

Quando existe não precisa de códigos verbais para se manifestar.

Existia antes do conhecimento, irradia durante e permanece depois que as pessoas deixam de estar juntas."

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Questão

"A questão não é o que fazem conosco, mas sim o que fazemos com o que fazem conosco." ( SARTRE)

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DÉJÀ VU


Um dia você acorda e pensa que vai ser mais um dia na sua vida. Aquela de sempre. Ou a dos últimos meses. No segundo que você repara a sua volta , percebe que algo está diferente. Você não sabe bem o que é mas pressente...o presente. Não há mais nada lá. Só a sensação dele, do que passou. Como um rastro, um sabor. Um simples lembrar do que viveu, do que já foi. Quase um déjà vu.

Existe o você se despedindo do nós, desatando as amarras e deixando a água levar, a mente vagar e a alma fluir. E então ao derramar uma lágrima, poder voltar a sorrir, sair, sentir e, enfim renascer. Recordar sem temor o que hoje é saudade. Viver o presente que é realidade em carne viva.

A dor vai passar e virá a vontade de viver tudo outra vez. Tudo tão igual e tão diferente. Sem ter medo que o futuro um dia se torne um reflexo do passado. E um presente doloroso ressurja. Não existe vida sem marcas. Cicatrizes na alma são medalhas de uma guerra onde quem sobrevive vence e é herói!

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A música que não sai da cabeça...

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Ele é só um cara


É só um cara. Não é o sustentáculo de todos os ossos do seu corpo, tampouco o mármore onde está gravada a suprema razão de sua existência. É só um cara.

E quer mesmo saber? É um cara igual a todos os outros caras.

Esse que te perguntou as horas no meio da rua, e vc nem ligou. O médico, o mendigo, o padre. Ele estava alí o tempo todo. E ele não estava. Ele é só um deles. Vários. Uma legião. E ninguém.

É só um cara e não sua vida. E não todos os dias da sua história. E não todas as suas lágrimas juntas num dia solitário. Ele não é o destino. É só um cara. Existem muitos destinos.

Ele é só um cara que mal sabe distinguir o que sente. Não sabe lutar. E nem tomar suas próprias decisões sozinho. Ele não soube valorizar. É só mais um cara perdido como muitos outros que você encontrou. E perdeu.

Ele é só um cara. E você já esqueceu outros caras antes!

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"... e denovo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente. Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, das pessoas e dos outros.
Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram.
Não perdí nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre."

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Mudança


Não gostamos de mudança, temos medo dela, mas não podemos impedí-la. Ou nos adaptamos a mudança, ou ficamos para atrás. É doloroso o processo de crescer. Quem diz que não é, está mentindo. Mas a verdade é que algumas vezes quanto mais as coisas mudam, mais elas continuam iguais. E algumas vezes a mudança é boa. Algumas vezes a mudança é tudo!

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Esperanças


Ninguém acha que a própria vida vai acabar mais ou menos. Todo mundo acha que a vida vai ser ótima e se enche de esperanças. Esperança das trilhas que serão desbravadas, da diferença que vai fazer na vida das pessoas. Grandes esperanças sobre quem seremos e onde iremos.
Todos achamos que tudo será sempre maravilhoso e nos sentimos mal quando nossas esperanças não são alcançadas, mas as vezes nossas esperanças nos subestimam.
As vezes o esperado perde a importância diante do inesperado.
Há de se perguntar, porque nos apegamos as nossas esperanças?
Porque o esperado é o que nos mantém firmes, em pé.
O esperado é só o começo, mas é o inesperado que muda nossas vidas.

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Saudade!

Trancar o dedo numa porta dói.
Bater com o queixo no chão dói.
Um tapa, um soco, um pontapé doem.
Morder a língua dói, dói cólica, pedra no rim.
Mas o que mais dói é a saudade.
Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama
Saudade da pele, do cheiro, dos beijos.
Saudade da presença, e até da ausência consentida
Você podia ficar na sala e ele no quarto, mas sabiam-se lá
Voce podia ficar o dia sem ve-lo, mas sabiam-se amanhã.
Contudo, quando o amor de um acaba, ou torna-se menor, ao outro sobra a saudade que ninguém sabe como deter.
Saudade é basicamente não saber.
Não saber mais se ela continua fungando num ambiente mais frio.
Não saber se ele continua sem fazer a barba pela manhã.
Não saber se ela ainda usa aquela saia.
Não saber se ele tem comido bem por causa daquela mania de comer doces.
Se ela aprendeu a estacionar entre dois carros
Se ele continua preferindo suco.
Saudade é não saber mesmo!
Não saber o que fazer com os dias que ficam mais compridos.
Não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento.
Não saber como frear as lágrimas diante de uma música
Não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
Saudade é não querer saber se ela está com outro, e ao mesmo tempo querer.
É não saber se ele está feliz, e ao mesmo tempo perguntar aos amigos.
É não querer saber se ele está mais magro, se ela está mais bela.
Saudade é nunca mais saber de quem se ama, e ainda assim doer.
Saudade é isso que sentí enquanto estive escrevendo,
e o que você, provavelmente, está sentindo agora depois de acabar de ler.

( MIGUEL FALABELA)

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