Saudade!

Trancar o dedo numa porta dói.
Bater com o queixo no chão dói.
Um tapa, um soco, um pontapé doem.
Morder a língua dói, dói cólica, pedra no rim.
Mas o que mais dói é a saudade.
Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama
Saudade da pele, do cheiro, dos beijos.
Saudade da presença, e até da ausência consentida
Você podia ficar na sala e ele no quarto, mas sabiam-se lá
Voce podia ficar o dia sem ve-lo, mas sabiam-se amanhã.
Contudo, quando o amor de um acaba, ou torna-se menor, ao outro sobra a saudade que ninguém sabe como deter.
Saudade é basicamente não saber.
Não saber mais se ela continua fungando num ambiente mais frio.
Não saber se ele continua sem fazer a barba pela manhã.
Não saber se ela ainda usa aquela saia.
Não saber se ele tem comido bem por causa daquela mania de comer doces.
Se ela aprendeu a estacionar entre dois carros
Se ele continua preferindo suco.
Saudade é não saber mesmo!
Não saber o que fazer com os dias que ficam mais compridos.
Não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento.
Não saber como frear as lágrimas diante de uma música
Não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
Saudade é não querer saber se ela está com outro, e ao mesmo tempo querer.
É não saber se ele está feliz, e ao mesmo tempo perguntar aos amigos.
É não querer saber se ele está mais magro, se ela está mais bela.
Saudade é nunca mais saber de quem se ama, e ainda assim doer.
Saudade é isso que sentí enquanto estive escrevendo,
e o que você, provavelmente, está sentindo agora depois de acabar de ler.

( MIGUEL FALABELA)

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